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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Iniciação ao Budismo






Texto de de H. Saddhatissa,


extraído do livro"O Caminho do Buda"

Uma característica singular do budismo é a omissão de qualquer cerimônia semelhante à do batismo. Existe apenas um meio de se tornar um budista, e este é o de seguir os passos do Buda e tentar pôr em prática seus ensinamentos no decorrer da vida. A filosofia budista reconhece certos "obstáculos" que impedem o crescimento de um indivíduo em direção a sua liberação. Um desses obstáculos é "a crença em ritos e rituais", a suposição equivocada de que, através da participação em cerimônias especiais ou em algumas práticas "religiosas", se possa encontrar a salvação. Não é, pois, de se admirar que não existam cerimônias de batismo no budismo. "Buscai vossa própria liberação" , e não vos importeis em vos associar a quaisquer grupos ou sociedades.

O que, então, marcaria a iniciação ao budismo? A qualidade requerida é o saddhã, freqüentemente traduzido como "fé", mas dignificando "confiança baseada no conhecimento". Como disse o Buda: "a confiança é a companheira do homem, e a sabedoria lhe dá o comando." Outra tradução interessante de saddhã é "a certeza de que há um objetivo a ser alcançado". Antes que se possa começar a seguir seriamente a trilha do Buda, é necessário que se tenha dentro de si, ainda que com certa hesitação, a confiança de que existe um caminho a ser trilhado e um objetivo a ser alcançado. Essa confiança inicial pode ser reforçada gradativamente, à medida que a experiência nos ensine que ela foi bem fundada. Contudo, sempre através da longa jornada, esta resposta do coração, este despertar da confiança, precederá, capacitando-nos a dar um novo passo na escuridão.

Não há dúvidas no reconhecimento deste modelo – a confiança inicial que conduz à vontade de experimentar, o que por sua vez resulta na confirmação da confiança original e fornece a base a partir da qual um passo além pode ser contemplado – que a prática budista do Tisarana foi instituída e desenvolvida.

O Tisarana, "a busca dos três refúgios", envolve a repetição tríplice da seguinte fórmula:
No Buda busco refúgio.
No Dhamma (ensinamento) busco refúgio.
No Sangha (ordem dos monges) busco refúgio.

Para o ocidental cético, tal sortilégio, sem dúvida alguma, soa como idolatria, superstição e "passividade oriental". Contudo, buscar refúgio no Buda não implica qualquer garantia pessoal de que ele próprio conduza à chegada ao objetivo de qualquer um de seus seguidores. Ao contrário, ele disse: "Por certo fazer o mal a ti mesmo, por ti mesmo te tornas impuro, por ti mesmo evitas o mal e te tornas puro. A pureza e a impureza ao indivíduo pertencem. Ninguém pode purificar o seu próximo".
O Tisarana, na verdade, seria provavelmente mais aceitável para o ocidental se em vez da consagrada expressão "refúgio" fosse empregada a palavra guia. Conseqüentemente, o primeiro "refúgio" poderia ser então traduzido como "eu pretendo usar o exemplo do Buda para guiar-me em minha busca".

O segundo guia é o Dhamma, o ensinamento. O exemplo da própria vida do Buda é de grande ajuda aos que desejam atingir um objetivo semelhante, do mesmo modo que a vida de Cristo oferece um modelo para inspirar e guiar os verdadeiros cristãos; o budista tem um segundo guia no detalhado ensinamento legado através dos tempos, assim como os cristãos têm um guia semelhante nos sermões e parábolas de Cristo registrados nos Evangelhos. O budista é, entretanto, mais afortunado, no sentido de que o Buda viveu por muitos anos após sua iluminação e teve tempo suficiente para desenvolver e aperfeiçoar uma filosofia detalhada, um código de vida, uma cuidadosa análise lentamente elaborada do caminho a ser tomado e de vários estágios a serem atingidos e transcendidos. No decorrer de sua vida de ensinamentos, o Buda encontrou milhares de pessoas de diferentes níveis sociais, de educação, morais e religiosos. Adaptou e aperfeiçoou sua mensagem para preencher as necessidades e capacidades de reis e mendigos, prostitutas e ascetas. O budismo atual pode voltar-se, portanto, confiantemente para o Ensinamento (Dhamma) em busca de apoio, sabendo que esse ensinamento desenvolveu-se a ponto de incorporar todos os tipos e condições humanas. Além do mais, na medida em que o ensinamento é colocado em prática, o seguidor do Buda passa a ter uma razão mais certa e mais íntima para acreditar no Dhamma: ele passa a se dar conta de que, apesar de conhecer pouco – e praticar menos ainda -, está começando a ser ajudado e "socorrido" pelo ensinamento. Ele recorre ao Dhamma em busca de apoio, pois começa a descobrir que a sua mensagem está de acordo com a sua própria experiência adquirida vagarosamente, e provavelmente de um modo doloroso.

O terceiro refúgio é o Sangha, a comunidade de monges do passado, presente e futuro. O fato de milhões de homens terem seguido o ensinamento do Buda e terem decidido devotar toda a sua energia e atenção a ele, e ainda o terem considerado um modo de vida válido e satisfatório, fez com que se tornassem o terceiro guia do budista. O Sangha pode ser interpretado como comunidade ou ordem de monges, mas pode também ser interpretado como a amizade daqueles que percorreram os caminhos do Buda e colheram o fruto de seu trabalho.
http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=1259

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