Texto de de H. Saddhatissa,
extraído do livro"O Caminho do Buda"
Uma
característica singular do budismo é a omissão de qualquer cerimônia
semelhante à do batismo. Existe apenas um meio de se tornar um budista,
e este é o de seguir os passos do Buda e tentar pôr em prática seus
ensinamentos no decorrer da vida. A filosofia budista reconhece certos
"obstáculos" que impedem o crescimento de um indivíduo em direção a sua
liberação. Um desses obstáculos é "a crença em ritos e rituais", a
suposição equivocada de que, através da participação em cerimônias
especiais ou em algumas práticas "religiosas", se possa encontrar a
salvação. Não é, pois, de se admirar que não existam cerimônias de
batismo no budismo. "Buscai vossa própria liberação" , e não vos
importeis em vos associar a quaisquer grupos ou sociedades.
O que, então, marcaria a iniciação ao budismo? A qualidade requerida é o saddhã,
freqüentemente traduzido como "fé", mas dignificando "confiança baseada
no conhecimento". Como disse o Buda: "a confiança é a companheira do
homem, e a sabedoria lhe dá o comando." Outra tradução interessante de saddhã é "a certeza de que há um objetivo a ser alcançado".
Antes que se possa começar a seguir seriamente a trilha do Buda, é
necessário que se tenha dentro de si, ainda que com certa hesitação, a
confiança de que existe um caminho a ser trilhado e um objetivo a ser
alcançado. Essa confiança inicial pode ser reforçada gradativamente, à
medida que a experiência nos ensine que ela foi bem fundada. Contudo,
sempre através da longa jornada, esta resposta do coração, este
despertar da confiança, precederá, capacitando-nos a dar um novo passo
na escuridão.
Não há dúvidas no reconhecimento deste modelo – a
confiança inicial que conduz à vontade de experimentar, o que por sua
vez resulta na confirmação da confiança original e fornece a base a
partir da qual um passo além pode ser contemplado – que a prática
budista do Tisarana foi instituída e desenvolvida.
O Tisarana, "a busca dos três refúgios", envolve a repetição tríplice da seguinte fórmula:
No Buda busco refúgio.
No Dhamma (ensinamento) busco refúgio.
No Sangha (ordem dos monges) busco refúgio.
Para
o ocidental cético, tal sortilégio, sem dúvida alguma, soa como
idolatria, superstição e "passividade oriental". Contudo, buscar refúgio
no Buda não implica qualquer garantia pessoal de que ele próprio
conduza à chegada ao objetivo de qualquer um de seus seguidores. Ao
contrário, ele disse: "Por certo fazer o mal a ti mesmo, por ti mesmo te
tornas impuro, por ti mesmo evitas o mal e te tornas puro. A pureza e a
impureza ao indivíduo pertencem. Ninguém pode purificar o seu próximo".
O Tisarana,
na verdade, seria provavelmente mais aceitável para o ocidental se em
vez da consagrada expressão "refúgio" fosse empregada a palavra guia.
Conseqüentemente, o primeiro "refúgio" poderia ser então traduzido como
"eu pretendo usar o exemplo do Buda para guiar-me em minha busca".
O segundo guia é o Dhamma,
o ensinamento. O exemplo da própria vida do Buda é de grande ajuda aos
que desejam atingir um objetivo semelhante, do mesmo modo que a vida de
Cristo oferece um modelo para inspirar e guiar os verdadeiros cristãos; o
budista tem um segundo guia no detalhado ensinamento legado através dos
tempos, assim como os cristãos têm um guia semelhante nos sermões e
parábolas de Cristo registrados nos Evangelhos. O budista é, entretanto,
mais afortunado, no sentido de que o Buda viveu por muitos anos após
sua iluminação e teve tempo suficiente para desenvolver e aperfeiçoar
uma filosofia detalhada, um código de vida, uma cuidadosa análise
lentamente elaborada do caminho a ser tomado e de vários estágios a
serem atingidos e transcendidos. No decorrer de sua vida de
ensinamentos, o Buda encontrou milhares de pessoas de diferentes níveis
sociais, de educação, morais e religiosos. Adaptou e aperfeiçoou sua
mensagem para preencher as necessidades e capacidades de reis e
mendigos, prostitutas e ascetas. O budismo atual pode voltar-se,
portanto, confiantemente para o Ensinamento (Dhamma) em busca de
apoio, sabendo que esse ensinamento desenvolveu-se a ponto de incorporar
todos os tipos e condições humanas. Além do mais, na medida em que o
ensinamento é colocado em prática, o seguidor do Buda passa a ter uma
razão mais certa e mais íntima para acreditar no Dhamma: ele
passa a se dar conta de que, apesar de conhecer pouco – e praticar menos
ainda -, está começando a ser ajudado e "socorrido" pelo ensinamento.
Ele recorre ao Dhamma em busca de apoio, pois começa a descobrir
que a sua mensagem está de acordo com a sua própria experiência
adquirida vagarosamente, e provavelmente de um modo doloroso.
O terceiro refúgio é o Sangha,
a comunidade de monges do passado, presente e futuro. O fato de milhões
de homens terem seguido o ensinamento do Buda e terem decidido devotar
toda a sua energia e atenção a ele, e ainda o terem considerado um modo
de vida válido e satisfatório, fez com que se tornassem o terceiro guia
do budista. O Sangha pode ser interpretado como comunidade ou
ordem de monges, mas pode também ser interpretado como a amizade
daqueles que percorreram os caminhos do Buda e colheram o fruto de seu
trabalho.
http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=1259
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado!
Sua participação é muito importante.
rar.