Apaixonado por literatura, Marcos Túlio Damascena criou na borracharia do pai, uma biblioteca que atende comunidades da periferia de Sabará
Borracharias viram bibliotecas em Sabará
Seção : Arte e Livros - 17/07/2010 10:54
Criada há oito anos, a Borrachalioteca cresce e inaugura novas unidades, inclusive o Espaço Libertação, no presídio municipal. Projeto desenvolve oficinas de poesia e percussão
Carlos Herculano Lopes - EM Cultura
Fundar uma Borrachalioteca, ou seja, uma biblioteca dentro de uma borracharia. Essa ideia começou a andar pela cabeça do então estudante Marco Túlio Damascena há 10 anos, quando ele, com 22 anos, passou a trabalhar com seu pai, o borrracheiro Joaquim Escolástico Damascena, numa pequena borracharia na Praça Paula de Souza Lima, no Bairro Caieira, periferia de Sabará. Fica a menos de 30 metros do poluído Rio das Velhas. Como era de se esperar, o “velho”, a princípio, não achou nenhuma graça naquele projeto, pois onde já se viu uma coisa daquelas, misturar livros com pneus? É claro que não daria certo. Mas Marcos Túlio, que é tão cabeça dura quanto o pai, continuou insistindo. Coração mole, Joaquim acabou cedendo.Estava nascendo, a partir desse pequeno embate familiar, um dos projetos culturais mais originais de Minas, a Borrachalioteca de Sabará, que hoje, oito anos depois da sua fundação, além de ser reconhecida em todo o país, se transformou numa associação: o Instituto Cultural Aníbal Machado. O nome foi dado em homenagem ao escritor, filho da terra, autor de obras-primas como Tati, a garota. Atualmente conta com mais três unidades: a Sala Son Salvador, que funciona no Bairro Cabral; o Libertação pela Leitura, dentro do presídio municipal de Sabará; e a Casa das Artes, também no Bairro Caieira. Recém-inaugurado, este novo espaço abriga, além da Cordelteca Olegário Alfredo, uma biblioteca infanto-juvenil, com cerca de 5 mil títulos, doados pelo Centro de Educação, Leitura e Escrita, da Faculdade de Letras da UFMG, e ainda os grupos Arautos da Poesia e Tambores Gerais, com mais de 40 integrantes. Na Borrachalioteca, que continua funcionando no local de origem, estão em fase de catalogação quase 10 mil livros, dos mais diversos gêneros, à disposição da comunidade de Sabará. Ali, às quartas-feiras, ocorrem as Tardes culturais, voltadas para as escolas da região, quando são realizadas sessões de leitura, declamação de poemas e contação de histórias com as professoras Águida Alves, Lourdinha Reis, Márcia Reis e Isabel Cristina. Ao lado, vendo tudo “com bons olhos”, ‘‘seu’’ Joaquim continua remendando os pneus e fazendo seus negócios.“Nada mal para quem, como nós, começamos aqui na borracharia com apenas 70 livros, que nos foram doados pela Biblioteca Pública Municipal Joaquim Sepúlveda, de Sabará. Ver tantos títulos hoje, de autores brasileiros e estrangeiros, lotando essas estantes e sendo lidos pelo pessoal da nossa comunidade me dá uma alegria muito grande e vontade de continuar sempre com o trabalho”, comemora Marcos Túlio Damascena. Além de ter criado a Borrachalioteca, ele conseguiu realizar outro sonho: o de se formar na Faculdade de Letras. Leitor contumaz desde a adolescência, quando começou a ter contato com a poesia de Lêdo Ivo, Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meireles, Túlio afirma que seu maior orgulho, hoje, é ver as crianças da comunidade, seus “clientes” mais assíduos, buscar livros na Borrachalioteca.Entre os garotos e garotas que frequentam o espaço estão as amigas Ana Beatriz Silva de Oliveira, de 9 anos, e Raíssa Vitória, de 11, ambas alunas da Escola Estadual Paula Rocha, em Sabará. Olhos atentos, boas de conversa, e muito interessadas na leitura, elas fazem parte do grupo Arautos da Poesia, que funciona na Casa das Artes. Bons companheiros, outros que estão sempre presentes na Borrachalioteca e na Casa das Artes são os pequenos João Vitor Batista, de 9, e Henrique Policarpo da Costa, da mesma idade. Como Beatriz e Raíssa, também estudam na Paula Rocha. Eles participam também do Grupo Tambores Gerais, onde são alunos do escritor e percussionista Jorge Dikamba. “Desde o início colaboro com o Marco Túlio e tenho orgulho do nosso trabalho, pelo fato de proporcionarmos às crianças da nossa comunidade a oportunidade de ter contato com a cultura. Já nos apresentamos em Belo Horizonte, algumas cidades do interior e também em São Paulo”, diz o percussionista. Coordenador da Casa das Artes, Dikamba é autor do livro infanto-juvenil Amani, publicado pela Com Arte Edições. Todo o esforço, aliado à vontade de continuar levando adiante os projetos, já rendeu à Borrachalioteca alguns prêmios importantes, como o Viva Leitura, em 2007, e Ponto de Leitura, em 2008, concedidos pelo governo federal. “Tudo isso nos incentiva, e só nos faz querer seguir adiante”, diz Marco Túlio. Com orgulho, mostra convite que acaba de receber do Ministério da Cultura para, em 19 de agosto, participar do 3º Seminário Internacional de Bibliotecas Públicas e Comunitárias e do 3º Fórum Nacional do Livro e Leitura, em São Paulo. Na ocasião, falará da sua experiência e do trabalho que vem realizando, não só na Borrrachioteca, como nos outros espaços criados pelo Instituto Aníbal Machado.
BORRACHALIOTECA - Praça Paulo de Souza Lima, 22, Bairro Caieira; Sala Son Salvador, Rua do Cabral, 118; Espaço Libertação pela Leitura, presídio municipal, Avenida Expedicionário Romeu J. Dantas, s/nº; Casa das Artes, Av. Alberto Scharlé, 31, Água Férrea, Sabará. Informações: (31) 3674-6558 e borrachalioteca@gmail.com
Recebi por e-mail ...julguei interessante postar aqui. Posto por Túlio.
ResponderExcluirrar.
Rogério,
Obrigado.
Ficou muito legal seu blog.
Envio o link da entrevista de Lêdo Ivo.
Abraço, Túlio
Acadêmico Lêdo Ivo diz que a paisagem exuberante atrapalha o Brasil
Para o poeta e escritor, o calor também não favorece em nada a reflexão.
Quem disse que a Academia Brasileira de Letras (ABL) é um lugar solene, que não admite controvérsias? Em plena temporada de verão, o poeta, escritor e acadêmico Lêdo Ivo diz que o calor não ajuda em nada o Brasil porque atrapalha a reflexão. “Um pouco mais de reflexão faria muito bem ao Brasil”, diz. E mais: a paisagem exuberante atrai todas as atenções e impede que o brasileiro tenha uma vida interior rica. “Há uma espécie de inflação de paisagem”, constata.
Aos 86 anos, Lêdo Ivo levanta uma bandeira que parecia esquecida: diz que o ensino do latim deve voltar urgente ao currículo das escolas brasileiras. “Nós vivemos em um mundo, em certo sentido, monossilábico”, avalia.
Por fim, descubra quem foi o escritor que o acadêmico atacou durante a entrevista a Geneton Moraes Neto.
http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1509163-17665-337,00.html